terça-feira, 17 de maio de 2016

Corpo e alma.

Enquanto os filósofos Pré-socráticos investigavam a natureza, a partir do século V a.C. Sócrates põe o ser humano sob o foco do pensamento filosófico grego.Afirma-se que ele adotou como lema de sua prática filosófica a inscrição que ficava no portal do famoso Oráculo de Delfos, templo dedicado ao deus Apolo: "Conhece-te a ti mesmo e conhecerás os homens, o mundo e os deuses". Essa inscrição considera o ser humano como a fonte de todo o conhecimento e o meio pelo qual é possível conhecer os outros, o mundo e até mesmo os deuses. Uma vez que aquela exigência única fosse cumprida por meio da prática da filosofia, para Sócrates, uma forma de autoconhecimento, a vida, examinada e investigada, tornar-se-ia mais digna de ser vivida.
Ainda na Antiguidade, dois filósofos deram importantes contribuições para o pensamento em torno do ser humano: Platão e Aristóteles.
Platão afirmava que o ser humano é composto de um corpo físico material, imperfeito e mortal, e de uma alma, imaterial, perfeita e imortal. Não se pode pensar no ser humano apenas como um corpo nem apenas como alma; ele é a ligação indissolúvel entre os dois. Precisa, no entanto, ser conduzido pela alma, sede da razão e do pensamento, para que sua vida não se perca nas imperfeições. Platão adverte que a ideia de sermos guiados pela alma não significa uma negação do corpo: o bom uso da alma depende da saúde do corpo que possibilita a ginástica da alma, a filosofia. Além disso, uma vez controlados os instintos e as paixões do corpo, a alma pode dedicar-se às ideias. Essa teoria foi a base daquilo que seria chamado depois de "dualismo psicofísico".
Sem se afastar do dualismo corpo-alma exposto por Platão, Aristóteles avançou bastante nos estudos filosóficos sobre o ser humano. Desenvolveu uma teoria na qual distingue os vários atributos da alma, sendo a razão o mais importante deles, por ser encontrada apenas nos seres humanos. Definiu o homem como um "animal racional" e um "animal político".
Ao afirmar isso, Aristóteles quer dizer que o homem é dotado de pensamento e de linguagem. Para designar tal característica, ele usa a palavra grega logos, que tanto significa 'razão', 'pensamento', quanto 'palavra', 'linguagem'. Isso porque os gregos antigos afirmavam que o ser humano só pensa por meio da linguagem, que pensamento e linguagem estão entrelaçados. Dessa primeira definição decorre a segunda: se somos seres de linguagem, se nos comunicamos com aqueles que são iguais a nós, então com eles compartilhamos a vida. Por isso, somos seres sociais, políticos, que não apenas vivem em comunidade, mas que só se realizam plenamente sua humanidade na vida política.
Na Idade Média, a filosofia esteve estreitamente ligada à religião. A Igreja utilizava argumentos filosóficos para reforçar os ensinamentos cristãos. O ser humano era considerado criação e instrumento de Deus. Sendo assim, o mais importante era conhecer aquilo que o criador espera da criatura. A pergunta então não era "quem eu sou?", mas sim "como Deus quer que eu seja".
Entre os séculos XIV e XVI, a situação se modificou. Era a época do Renascimento, movimento de renovação cultural que se difundiu na Europa e que recuperou a valorização das qualidades humanas. Pensadores renascentistas propuseram que o centro das preocupações humanas deixasse de ser Deus (teocentrismo) e passasse a ser o próprio homem (antropocentrismo), como forma de recuperar a "dignidade humana".
A ênfase no ser humano marcou o iluminismo (século XVIII), movimento que reafirmou a capacidade da razão em superar as adversidades do mundo. Com a Revolução Industrial do século XIX, ganhariam forma as preocupações com a "desumanização" das técnicas e da exploração do homem pelo homem na sociedade capitalista, como veremos mais adiante. Os avanços científicos nos séculos XIX e XX, especialmente com o surgimento das várias ciências humanas, trouxeram conhecimentos que atribuíram novo significado às reflexões sobre o humano no campo da filosofia.

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