segunda-feira, 30 de março de 2015

Aristóteles e a Ética como ação para a felicidade
No século IV a.C., Aristóteles estabeleceu uma primeira organização das ciências (no sentido antigo do termo, isso é, um saber sistematizado segundo critérios racionais de classificação), dividindo-as em dois grandes campos.
De um lado ficaram as ciências teoréticas, aquelas produzidas por teoria, contemplação, e que não criam seus objetos, pois se dedicam a pensar objetos que já existem e independem do pensamento. A finalidade dessas ciências está fora delas, pois seu objeto é exterior ao pensamento. Nesse grupo Aristóteles inclui a metafísica (que estuda os objetos não materiais e é denominada "filosofia primeira") e a física, subdividida em filosofia da natureza, biologia e psicologia.
De outro lado ficara as ciências práticas (ou ciências da práxis), que têm por objeto a ação humana. Segundo Aristóteles, essas ciências criam seus próprias objetos e encontram suas finalidades nelas mesmas. Criam seus objetos, pois a ação humana depende do pensamento; é pensando que agimos. No caso dessas ciências, o pensar e o agir estão intimamente conectados. Por isso Aristóteles afirma que elas encontram suas finalidades nelas mesmas: ao pensar as ações dos seres humanos, essas ciências não focam objetos exteriores, mas o próprio ser humano. Nesse grupo foram incluídas a economia, a política e a ética. A primeira cuida da administração da casa; a segunda, da gestão da cidade; e a última trata da organização da vida de cada um. São, pois, três ciências bastante integradas entre si, uma vez que todas tratam de nossas ações, cada uma relativa a determinada esfera: a vida de cada um, sua casa, sua cidade.
A filosofia ética, afirma Aristóteles, estuda as ações humanas baseadas naquilo que é natural em cada ser humano, seu caráter. O caráter, para ele, é o temperamento, isto é, o modo como se temperam em cada um de nós os quatros elementos básicos (quente, frio, seco e úmido) e os quatro humores (sangue, fleuma, bílis, amarela e bílis negra), de forma que um deles predomine sobre os demais. O temperamento dá origem a quatro tipos básicos de caráter: sanguíneo, fleumático, colérico e melancólico.
A ética aristotélica ensina a viver de acordo com o caráter, a disposição natural de cada um. Não se trata, porém, de simplesmente agir de modo predeterminado; a ética implica uma ação racional, isto é, pensada. Para Aristóteles, nós aprendemos a agir eticamente. Mas como isso seria possível? Segundo o filósofo grego, somos dotados de um apetite ou um desejo, isto é, de uma inclinação natural, para buscarmos o prazer e fugirmos da dor. O apetite é, porém, uma paixão (que para os gregos implicava passividade), o que se opõe à ação (atividade). A tarefa da ética é educar nosso apetite ou desejo para que evitemos o vício (para os gregos, a desmedida) e alcancemos a virtude (o equilíbrio), conquistada pelo exercício da prudência.
Quanto mais refletirmos sobre a finalidade das nossas ações, mantendo-nos na direção das ações virtuosas - as quais, segundo Aristóteles, têm a na felicidade o maior bem, por ter seu fim em si mesma -, quanto mais soubermos agir racionalmente, conduzindo nossos desejos para longe dos vícios, mais prudentes, melhores e felizes seremos.
Afinal, se não há bem maior que a felicidade, é porque todas as nossas ações e objetivos que perseguimos são, na verdade, meios para que alcancemos esse fim último. 


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