terça-feira, 24 de março de 2015

As propostas éticas de Epicuro e dos estoicos:
Diferentemente de Platão e Aristóteles que valorizavam o papel do intelecto na busca por uma vida feliz em todos os setores da vida, Epicuro(341-271 a.c.). recomendava o caminho do prazer. Para ele, felicidade é o prazer resultante da satisfação dos desejos, como crê a maioria das pessoas. Ele pensava que para ser feliz o ser humano deveria buscar fundamentalmente o prazer, visto que, tudo é matéria. Com base nesta visão sensualista(baseada nas sensações), Epicuro dirá que todos os seres buscam o prazer e fogem da dor e que, para sermos felizes, devemos gerar, primeiramente, as condições materiais e psicológicas que nos permitam experimentar apenas o prazer da vida. Ele pensava que uma das principais causas de angústia e infelicidade seriam as preocupações religiosas e as superstições referindo-se assim, ao temor que certas crenças e religiões nos impõem. Por exemplo, os gregos temiam muito ofender seus deuses e serem terrivelmente punidos por eles. Também viviam sob o pavor de que forças divinas interferissem em suas vidas, mudando sua sorte ou tirando-lhes os seus entes queridos. Todo este sofrimento poderia ser evitado, segundo o filósofo, se as pessoas compreendessem que o universo inteiro é constituído de matéria, inclusive a alma humana. Veriam que tudo o que acontece pode ser explicado pelo movimento aleatório dos átomos, que produz forças cegas e indiferentes ao destino humano. Aqui Epicuro segue a teoria atomista e mecanicista de Demócrito(460-370 a.c.).Mediante esta compreensão materialista do universo e do ser humano, Epicuro sustentava que as pessoas também se livrariam de outro grande fator de angústia e infelicidade: o medo da morte. " Acostuma-te à ideia de que a morte para nós não é nada, visto que todo o bem e todo mal residem nas sensações, e a morte é justamente a privação das sensações. A consciência clara de que a morte não significa nada para nós proporciona a fruição da vida efêmera, sem querer acrescentar-lhe tempo infinito e eliminando o desejo de imortalidade. [...] quando estamos vivos, é a morte que não está presente; ao contrário, quando a morte está presente, nós é que não estamos. [Carta sobre a felicidade [a Meneceu], p.27-28". Epicuro classifica os desejos de três formas:
.naturais e necessários - como os desejos de comer, beber e dormir;
.naturais e desnecessários - como o desejo de comer alimentos refinados, tomar bebidas especiais e caras e dormir em lençóis luxuosos etc.;
.não naturais e desnecessários - como os desejos de riqueza, fama e poder.
Contentar-se com pouco seria o segredo do prazer e da felicidade. Com a expectativa reduzida não há decepção, e um grande pode advir de um copo de água. Como nem todos os prazeres contribuem para uma vida feliz, segundo Epicuro, podemos concluir que alguns prazeres são superiores a outros, por isso, ele recomendava que o homem deveria agir com prudência racional. O estado de imperturbabilidade da alma em relação ao que ocorre no mundo era o que buscava Epicuro em sua ética. Este estado era chamado de ataraxia e seria o último estágio da busca pela felicidade, segundo ele.
Para os estoicos conhecidos principalmente por meio dos pensamentos de Zenão de Cício(335-264 a.c.), ser feliz é viver de acordo com a ordem cósmica, aceitando e amando o próprio destino. Para isso, devemos primeiro entender que o estoicismo concebe o universo como kósmos, "universo ordenado e harmonioso", composto de um princípio passivo( a matéria ) e de um princípio ativo, racional, inteligente ( o chamado logos ), que permeia, anima e conecta todas as suas partes.
Esse princípio ativo ou inteligência universal que os estoicos chamavam de providência regeria toda a realidade, equivalente ao que se pode denominar Deus. Tudo o que existe e acontece tem um objetivo e uma razão de ser, pois faz parte da inteligência universal e divina. Assim, tudo é necessário, ou seja, não pode ser diferente do que é, pois, no kósmos, todos os eventos estão organicamente predeterminados. Isso inclui a vida de cada um, o que quer dizer que, na concepção estoica, cada pessoa nasce com um destino definido.Para os estoicos, existem coisas que dependem de nós e outras que não dependem só de nós, depende de nós por exemplo, elaborar um bom trabalho, ser bom ou ser generoso. Não depende de nós(ou só de nós), ganhar na loteria, conquistar a pessoas amada, interferir na ordem do universo. Usar a vontade para querer aquilo que posso me faz verdadeiramente feliz.
Com base neste raciocínio, os estoicos procuraram orientar a conduta das pessoas estabelecendo a seguinte distinção entre as coisas:
.boas - são aquelas que dependem de nós e que devemos querer e buscar durante a vida para sermos felizes, tais como, ser prudente, justo, corajoso;
.más - são aquelas que dependem de nós, mas que, devemos evitar, tais como, ser imprudente, injusto, covarde, guloso, raivoso;
.indiferentes - são aquelas que não dependem de nós e com as quais não devemos nos preocupar, sob pena de gerar infelicidade, como é o caso da morte, do poder, da saúde ou doença, da riqueza ou pobreza, entre outras. A infelicidade ocorre, portanto, segundo os estoicos, quando não conduzimos corretamente nossos pensamentos e não evitamos as chamadas coisa más. Ou quando nos preocupamos com as tais coisas indiferentes(algo muito frequente) o que conduz à formação de juízos errôneos e opiniões equivocadas sobre os acontecimentos e o consequente despertar das paixões(que é o resultado do uso inadequado da razão). Assim, dominar as paixões é o objetivo principal da ética estoica.
Veja o conselho de um pensador estoico grego, Epiteto[55-135], que foi escravo em Roma durante a maior parte de sua vida:
"Lembra-te que não é aquele que te diz injúrias, nem aquele que te bate, quem te ultraja, mas sim a opinião que tens deles, e que te faz olhá-los como gente por quem és ultrajado. Quando alguém te magoa ou te irrita, saiba que não é aquele homem que te irrita, mas sim tua opinião. Esforça-te portanto, acima de tudo, para não te deixar levar por tua imaginação. (Citado em Bosch, A filosofia e a felicidade, p.103)".  

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