segunda-feira, 1 de junho de 2015

Filosofia na História

Os principais períodos da Filosofia:
Filosofia antiga (do século VI a.C. ao século VI d.C.)
Compreende os quatro grandes períodos da filosofia greco-romana, indo do período pré-socrático ao helenístico.
Filosofia patrística (do século I ao século VII)
Inicia-se com as Epístolas de Paulo e o Evangelho de João e termina no século VIII, quando teve início a filosofia medieval.
A filosofia desse período é conhecida com o nome de patrística, pois foi obra não só de dois apóstolos (Paulo e João), mas também dos chamados padres da Igreja católica, isto é, dos primeiros dirigentes espirituais e políticos do cristianismo, após a morte dos apóstolos.
A patrística resultou do esforço feito pelos dois apóstolos intelectuais (Paulo e João) e pelos primeiros padres para conciliar a nova religião, o cristianismo, com o pensamento filosófico dos gregos e romanos, pois somente com tal conciliação seria possível convencer os pagãos da nova verdade e convertê-los a ela. A filosofia patrística liga-se, portanto, à evangelização e à defesa da religião cristã contra os ataques teóricos e morais que recebia dos antigos. Seus nomes mais importantes foram Justino, Tertuliano, Orígenes, Clemente, Eusébio, Santo Ambrósio, São Gregório Nazianzo, São João Crisóstomo, Santo Agostinho e Boécio.
A patrística introduziu ideias desconhecidas para os filósofos greco-romanos; a ideia de criação do mundo a partir do nada, de pecado original do homem, de Deus como trindade una, de encarnação e morte de Deus, de juízo final ou de fim dos tempos e ressurreição dos mortos, etc. Precisou também explicar como o mal pode existir no mundo, uma vez que tudo foi criado por Deus, que é pura perfeição e bondade.
Introduziu, sobretudo com Santo Agostinho e Boécio, a ideia de "homem interior", isto é, da consciência moral e do livre-arbítrio da vontade, pelo qual o homem, por ser dotado de liberdade para escolher entre o bem e o mal, é o responsável pela existência do mal no mundo.
Para impor as ideias cristãs, os padres da Igreja católica as transformaram em verdades reveladas por Deus (por meio da Bíblia e dos santos) que, por serem decretos divinos, seriam dogmas, isto é, verdades irrefutáveis e inquestionáveis. Com isso, criou-se uma distinção entre verdades reveladas ou da fé e verdades da razão ou humanas, ou seja, entre verdades sobrenaturais e verdades naturais, as primeiras introduzindo a noção de conhecimento recebido por uma graça divina, superior ao simples conhecimento racional. Dessa forma, o grande tema da filosofia patrística é o da possibilidade ou impossibilidade de conciliar a razão com a fé.
A esse respeito, havia três posições principais:
1. os que julgavam fé e razão irreconciliáveis e a fé superior à razão (diziam eles: "Creio porque é absurdo");
2. os que julgavam fé e razão conciliáveis, mas subordinavam a razão à fé (diziam: "Creio para compreender");
3. os que julgavam razão e fé irreconciliáveis, mas afirmavam que cada uma delas tem seu campo próprio de conhecimento e não devem se misturar (a razão se refere a tudo o que concerne à vida temporal dos homens no mundo; a fé, a tudo o que se refere à salvação da alma e à vida eterna futura).
Filosofia Medieval (do século VIII ao século XIV)
Abrange pensadores europeus, muçulmanos e judeus. É o período em que a Igreja romana dominava a Europa, ungia e coroava reis, organizava Cruzadas à chamada Terra Santa e criava, à volta das catedrais, as primeiras universidades ou escolas. A partir do século XII, por ter sido ensinada nas escolas, a filosofia medieval também é conhecida com o nome de escolástica.
A filosofia medieval teve como influências principais Platão e Aristóteles, embora o Platão conhecido pelos medievais fosse o neoplatônico (isto é, interpretado pelo filósofo Plotino, do século III d.C.), e o Aristóteles por eles conhecido fosse aquele conservado e traduzido pelos pensadores muçulmanos, particularmente Avicena e Averróis.
Conservando e discutindo os mesmos problemas que a patrística, a filosofia medieval acrescentou outros. Durante esse período surge principalmente a filosofia cristã, que é, na verdade, uma teologia fundada na nova fé do mirante no Ocidente. Alguns de seus grandes temas são: a diferença e separação entre infinito (Deus) e finito (homem, mundo); a diferença entre a razão e fé (a primeira deve subordinar-se à segunda); a diferença e separação entre corpo (matéria) e alma (espírito); o Universo como uma hierarquia de seres, pelo qual os superiores (Deus, serafins, querubins, arcanjos, anjos, alma) dominam e governam os inferiores (corpo, animais, vegetais, minerais); a subordinação do poder temporal dos reis e nobres ao poder espiritual de papas e bispos.
Outra característica marcante da escolástica foi o método por ela inventado para expor as ideias filosóficas, conhecido como disputa: apresentava-se uma tese e esta devia ser ou refutada ou defendida com argumentos tirados da Bíblia, de Aristóteles, de Platão ou de padres da Igreja, particularmente Pedro Lombardo.
Assim, uma ideia era considerada verdadeira ou falsa dependendo da força e da qualidade dos argumentos encontrados nos vários autores. Por causa desse método de disputa, costuma-se dizer que, na Idade Média, o pensamento estava subordinado ao princípio da autoridade, isto é, uma ideia é considerada verdadeira se tiver respaldo nos argumentos de uma autoridade reconhecida, Bíblia, Platão, Aristóteles, um papa, um santo.
Filosofia da Renascença (século XIV e XV) 
É marcada pela descoberta, na Europa ocidental, das obras de Platão e de outras obras de Aristóteles, desconhecidas na Idade Média. Essas obras, lidas em grego, recebem novas traduções, mais acuradas e fiéis. Nessa época, muitos também se dedicam a recuperar obras de autores gregos e romanos e imitá-los.
São três as grandes linhas de pensamento que predominavam na Renascença:
1. Aquela proveniente da leitura de três diálogos de Platão (Banquete, Fédon e Fedro), das obras dos filósofos neoplatônicos e da descoberta do conjunto dos livros de hermetismo ou de magia natural, que se supunha terem vindo do Egito, escritos séculos antes de Moisés e de Platão, ditados por deuses a seus filhos humanos.
Essa linha de pensamento, surgida na cidade de Florença (na atual Itália), concebia a natureza como um grande ser vivo, dotado de uma alma universal ( a Alma do Mundo) e feito de laços e vínculos secretos de simpatia e antipatia entre todas as coisas. O homem, como parte da natureza, poderia agir sobre o mundo por meio de conhecimentos e práticas que operam com essas ligações secretas, isto é, por meio da magia natural, da alquimia e da astrologia.
2. Aquela originária dos pensadores florentinos que valorizavam a vida ativa (a política) e defendiam a liberdade das cidades italianas contra o poderio dos papas e dos imperadores. Na defesa da liberdade política, esses pensadores recuperaram a ideia de república presente nas obras dos grandes autores políticos da Roma antiga, como Cícero, Tito Lívio e Tácito, bem como nos escritos de historiadores e juristas clássicos. Sua proposta era a da "imitação dos antigos", ou o renascimento da república livre.
3. Aquela que propunha o ideal do homem como artífice de seu próprio destino, tanto por meio dos conhecimentos (astrologia, magia, alquimia) como por meio da política (o ideal republicano), das técnicas (medicina, arquitetura, engenharia, navegação) e das artes (pintura, escultura, poesia, teatro).
Essas três linhas de pensamento explicam por que se costuma falar no humanismo como traço predominante da Renascença, uma vez que nelas o homem é colocado como centro do Universo, defendido em sua liberdade e em seu poder criador e transformador.
A intensa atividade teórica e prática dessa época foi alimentada com as grandes viagens marítimas, que levavam os europeus a conhecer novos mares, novos céus, novas terras e novas gentes, permitindo-lhes ter uma visão crítica de sua própria sociedade. Essa efervescência cultural e política levou a críticas profundas à Igreja romana, que culminaram na Reforma Protestante.
Filosofia Moderna (do século XVII a meados do século XVIII) 
Nesse período, conhecido como o Grande Racionalismo Clássico, foi preciso enfrentar um ambiente de pessimismo teórico, reinante desde o fim desde o século XVI. Dominava o citicismo, a atitude filosófica que duvida da capacidade da razão humana para conhecer a realidade exterior e o homem.
As guerras de religião, os encontros dos europeus com povos que desconheciam, as disputas filosóficas e teológicas criaram um ambiente em que o sábio já não podia admitir que a razão humana é capaz de conhecimento verdadeiro e que a verdade é universal e necessária. Ao contrário, diante da multiplicidade de opiniões em luta, o sábio tornou-se cético.
Para restaurar o ideal filosófico da possibilidade do conhecimento racional verdadeiro e universal, a filosofia moderna propõe três mudanças teóricas principais:
1. O surgimento do sujeito do conhecimento: a filosofia, em lugar de começar por conhecer a natureza (como na filosofia antiga) ou Deus (como na patrística e na escolástica), começa indagando qual é a capacidade da razão humana para conhecer e demonstrar a verdade dos conhecimentos. Em outras palavras, em vez de começar pelas coisas a serem conhecidas, sobre as quais só cabem dúvidas e desconfianças, a filosofia começa pela reflexão. Assim, aquele que conhece (o sujeito do conhecimento) volta-se para si mesmo para saber se é capaz de conhecimento verdadeiro e, se for, sob quais condições ele é capa disso. Somente depois de conhecer-se a si mesmo como capaz de conhecimento verdadeiro é que o sujeito se volta para as coisas a conhecer ou para os objetos do conhecimento.
O ponto de partida é, portanto, o sujeito do conhecimento como consciência de si reflexiva, isto é, como consciência que conhece sua capacidade de conhecer. O sujeito do conhecimento é o intelecto ou a inteligência que, com a vontade, existe no interior de uma substância, a corpórea, que constitui a natureza do nosso corpo e dos corpos exteriores.
Por isso, para vencer o ceticismo, a filosofia precisa responder às perguntas: "Como o intelecto pode conhecer o que é diferente dele?"; "Como o espírito pode conhecer a matéria?"; "Como o sujeito espiritual pode conhecer os objetos corporais, o seu próprio corpo e os demais corpos da natureza?".
2. A resposta a essas perguntas constitui a segunda grande mudança teórica, que diz respeito ao objeto do conhecimento. Para os modernos, as coisas exteriores (a natureza, as instituições sociais e políticas) são conhecidas quando o sujeito do conhecimento as representa intelectualmente, ou seja, quando as apreende como ideias que dependem apenas das operações cognitivas realizadas pelo próprio sujeito.
Isso significa, por um lado, que tudo o que pode ser conhecido deve poder ser representado por um conceito ou por uma ideia clara e distinta, demonstrável e necessária, formulada pelo intelecto, e, por outro lado, que a natureza, a sociedade e a política podem ser inteiramente conhecidas pelo sujeito do conhecimento, porque são racionais em si mesmas e propensas a serem representadas pelas ideias do sujeito do conhecimento.
3. Essa concepção da realidade como racional e plenamente captável pelas ideias e conceitos preparou a terceira grande mudança teórica moderna. A natureza, a partir de Galileu, é concebida como um sistema ordenado de causas e efeitos cuja estrutura profunda e invisível é matemática. O "livro do mundo", diz Galileu, "está escrito em caracteres matemáticos, e para lê-lo é preciso conhecer matemática".
Essa ideia deu origem à ciência clássica, na qual prevalece o ponto de vista da mecânica, isto é, o de que nas relações de causa e efeito entre as coisas a causa é sempre o movimento, e este segue leis universais necessárias que podem ser explicadas e representadas matematicamente. Todos os fatos da realidade podem ser conhecidos pelas relações necessárias de causa e efeito que os produzem, os conservam ou os destroem.
A realidade é um sistema de causalidades racionais rigorosas que podem ser conhecidas e transformadas pelo homem. Nascem, assim, a ideia de experimentação científica (são criados laboratórios) e o ideal tecnológico, ou seja, a expectativa de que o homem poderá dominar tecnicamente a natureza e a sociedade, graças à invenção de máquinas.
Existe também a convicção de que a razão humana é capaz de conhecer a origem, as causas e os efeitos das paixões e das emoções e, pela vontade orientada pela razão, é capaz de governá-las e dominá-las de sorte que a vida ética pode ser plenamente racional.
A mesma convicção orienta o racionalismo político, isto é, a ideia de que a razão é capaz de definir para cada sociedade qual o melhor regime político e como mantê-lo racionalmente.
Os principais pensadores desse período foram: Francis Bacon, Descartes, Galileu, Pascal, Hobbes, Leibniz, Espinosa, Malebranche, Locke, Berkeley, Newton, Gassendi.
Filosofia da ilustração ou Iluminismo (meados do século XVIII ao início do século XIX)
Esse período também crê nos poderes da razão, chamada de As Luzes (por isso o nome iluminismo). O Iluminismo afirma que:
. pela razão, o homem pode conquistar a liberdade e a felicidade social e política (as ideias do iluminismo foram decisivas para a Revolução Francesa de 1789);
.  a razão é capaz de aperfeiçoamento e progresso, e o homem é um ser perfectível. A perfectibilidade consiste em libertar-se dos preconceitos religiosos, sociais e morais, libertar-se da superstição e do medo, graças ao avanço das ciências, das artes e da moral;
. o aperfeiçoamento da razão se realiza pelo progresso das civilizações, que vão das mais atrasadas (também chamadas de "primitivas" ou "selvagens") às mais adiantadas e perfeitas (na visão da maioria de seus filósofos, as da Europa ocidental);
. há diferença entre natureza e civilização: a natureza é o reino das leis naturais universais e
imutáveis, enquanto a civilização é o reino da liberdade e da finalidade proposta pela vontade livre dos próprios homens em seu aperfeiçoamento moral, técnico e político
A natureza é o reino da necessidade, isto é, das coisas e acontecimentos que não podem ser diferentes do que são; a civilização é o reino da liberdade, isto é, onde os fatos e acontecimentos podem ser diferentes do que são porque a vontade humana pode escolher entre alternativas.
Nesse período há grande interesse pelas ciências que operam com a ideia de transformação progressiva. Por isso, a biologia terá um lugar central no pensamento ilustrado, pertencendo ao campo da filosofia da vida. Há igualmente grande interesse e preocupação com as artes, na medida em que elas seriam a expressão por excelência do grau de progresso de uma civilização.
Data também desse período o interesse pelas bases econômicas da vida social e política. Surge uma reflexão sobre a origem e a forma das riquezas das nações, com uma controvérsia sobre qual é a fonte de maior importância: a agricultura (corrente fisiocrata) ou o comércio (corrente mercantilista).
Os principais pensadores do período foram: Hume, Voltaire, D'Alembert, Diderot, Rousseau, Kant, Fichte e Shelling.
Filosofia contemporânea
Abrange o pensamento que vai de meados do século XIX aos nossos dias. Este período, por ser o mais próximo de nós, parece o mais complexo de definir: as diferenças entre as várias posições filosóficas nos parecem muito grandes, pois as estamos vendo surgir diante de nós.
Os principais filósofos da contemporaneidade são: Michel Foucault, Martin Heidegger, Ludwig Wittgenstein, Jürgen Habermas. 

Um comentário:

  1. Excelente estudo e observações dos períodos históricos e seus fatos que influenciaram o desenvolvimento da sociedade, ou ao contrario foram os pensadores que mudaram o rumo desta, o que é uma grande probabilidade no meu pensar acadêmico.

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