quinta-feira, 28 de maio de 2015

A metafísica aristotélica.

Na Metafísica, Aristóteles afirma que a Filosofia Primeira estuda os primeiros princípios e as causas primeiras de todas as coisas e investiga "o Ser enquanto Ser". A Filosofia Primeira estuda as essências físicas, astronômicas, humanas, etc., pois cabe às diferentes ciências estudá-las como diferentes entre si. à metafísica cabem três estudos:
1. o estudo do ser divino, a realidade primeira e suprema da qual todo o restante procura aproximar-se, imitando sua perfeição imutável. As coisas se transformam incessantemente, diz Aristóteles, porque desejam encontrar sua essência total e perfeita, imutável como a essência divina. Por isso, o ser divino é o Primeiro Motor Imóvel do mundo, isto é, aquilo que, sem agir diretamente sobre as coisas, ficando à distância delas, as atrai, é desejado por elas. Tal desejo as faz mudar para, um dia, não mais mudar (esse desejo, diz Aristóteles, explica por que há o devir e por que o devir é eterno, pois as coisas naturais nunca poderão alcançar a perfeição imutável).
A mudança ou o devir são a maneira pela qual a natureza, ao seu modo, se aperfeiçoa e busca imitar a perfeição do imutável divino. O ser divino chama-se Primeiro Motor Imóvel porque é o princípio que move toda a realidade ao mesmo tempo que não se move e não é movido por nenhum outro ente. Como já vimos, movimento significa 'mudança', 'alterações qualitativas e quantitativas sofridas'; nascer é perecer, e o ser divino, perfeito, não foi gerado, por isso, nunca muda;
2. o estudo dos primeiros princípios e causas primeiras de todos os seres ou essências existentes;
3. o estudo das propriedades ou atributos gerais de todos os seres, graças aos quais podemos determinar a essência particular de um ser particular existente. A essência ou ousia é a realidade primeira e última de um ser, aquilo sem o qual um ser não poderá existir ou deixará de ser o que é. À essência, entendida dessa perspectiva universal. Aristóteles dá o nome de substância, e a metafísica estuda a substância em geral.
Os principais conceitos
De maneira muito breve e simplificada, os principais conceitos da metafísica aristotélica (eque se tornarão as bases de toda a metafísica ocidental) podem ser assim resumidos:
. primeiros princípios: são os três princípios que estudamos na lógica, isto é, identidade, não contradição e terceiro excluído. Os princípios lógicos são ontológicos porque definem as condições sem as quais um ser não pode existir nem ser pensado; os primeiros princípios garantem, simultaneamente, a realidade e a racionalidade das coisas;
. causas primeiras: são aquelas que explicam o que a essência é e também a origem e o motivo da sua existência. Causa (para os gregos) significa não só o porquê de alguma coisa, mas também o o quê e o como uma coisa é o que ela é. As causas primeiras nos dizem o que é, como é, por que é e para que é uma coisas. São quatro as causas primeiras:
1. causa material, isto é, aquilo de que um ser é feito, sua matéria (por exemplo, água, fogo, ar, terra);
2. causa formal, isto é, aquilo que explica a forma que um ser possui (por exemplo, o rio ou o mar são formas da água; a mesa é a forma assumida pela matéria madeira com a ação do carpinteiro). A forma é propriamente a essência de um ser, aquilo que ele é em si mesmo ou aquilo que o define em sua identidade e diferença com relação a todos os outros;
3. causa eficiente ou motriz, isto é, aquilo que explica como uma matéria recebeu uma forma para constituir uma essência (por exemplo, o ato sexual é a causa eficiente que faz a matéria óvulo, ao receber o esperma, adquirir a forma de um novo animal ou de uma criança; o carpinteiro é a causa eficiente que faz a madeira receber a forma de mesa; etc.);
4. a causa final, isto é, a causa que dá motivo, a razão ou a finalidade para alguma coisa existir e ser tal como ela é (por exemplo, o bem comum é a causa final da política; a flor é a causa final da transformação da semente em árvore; o Primeiro Motor Imóvel é a causa final do movimento dos seres naturais, etc.);
. matéria: é o elemento de que as coisas da natureza, os animais, os homens, os artefatos são feitos; sua principal característica é possuir virtualidades ou conter em si mesma possibilidades de transformação, isto é, de mudança;
. forma: é o que individualiza e determina uma matéria, fazendo existir as coisas ou os seres particulares; sua principal característica é ser aquilo que uma essência é;
. potência: é a virtualidade que está contida numa matéria e pode vir a existir, se for atualizada por alguma causa; por exemplo, a criança é um adulto em potência ou em potencial; a semente é a árvore em potência ou em potencial;
ato: é a atualização de uma matéria por uma forma e numa forma que atualizou uma potência contida na matéria. Por exemplo, a árvore é o ato da semente, o adulto é o ato da criança, a mesa é o ato da madeira, etc.
Potência e matéria são idênticas, assim como forma e ato são idênticos. A matéria ou potência é uma realidade passiva que precisa do ato e da forma, isto é, da atividade que cria os seres determinados. Graças aos conceitos de potência e ato, a metafísica aristotélica pode explicar a causa e a racionalidade de todos os movimentos naturais ou dos seres físicos, isto é, de todos os seres dotados de matéria e forma. O devir não é aparência nem ilusão, ele é o movimento pelo qual a potência se atualiza, a matéria recebe a forma e muda de forma.
. essência: é a unidade interna e indissolúvel entre uma matéria e uma forma. Essa unidade lhe dá um conjunto de propriedades ou atributos que a fazem ser necessariamente aquilo que ela é. Assim, por exemplo, um ser humano é por essência um animal mortal racional dotado de vontade, gerado por outros semelhantes a ele e capaz de gerar outros seres semelhantes a ele, etc.;
. acidente: é uma propriedade ou atributo que uma essência pode ter ou deixar de ter sem perder seu ser próprio. Por exemplo, um ser humano é racional ou mortal por essência, mas é baixo ou alto, gordo ou magro, negro ou branco, por acidente.
. substância: é aquilo em que se encontram a matéria-potência, a forma-ato, onde estão os atributos essenciais e acidentais, sobre o qual agem as quatro causas; em suma, é o Ser propriamente dito.
. predicados: são as categorias que vimos no estudo da lógica e que também são ontológicas, porque se referem à estrutura e ao modo de ser da substância ou da essência (quantidade, qualidade, relação, lugar, tempo, posse, ação, paixão). Vimos, ao estudar a lógica, que a substância é a primeira categoria. Aristóteles explica que, enquanto todas as categorias são predicados atribuídos a um sujeito, a substância é a primeira categoria. Aristóteles explica que, enquanto todas as categorias são predicados atribuídos a um sujeito, a substância não é atribuída a ninguém porque ele é, justamente, o sujeito que recebe os predicados. Os predicados atribuídos a uma substância são constitutivos de sua essência, pois toda a realidade pode ser conhecida porque: possui qualidades (mortal, imortal, finito, infinito, bom, mau, etc.); quantidades (um, muitos, alguns, pouco, muito, grande, pequeno); relaciona-se com outros (igual, diferente, semelhante, maior, menor, superior, inferior); está em algum lugar (aqui, ali, perto, longe, etc.); está no tempo ( antes, depois, agora, etc.); realiza ações ou faz alguma coisa (anda, pensa, dorme, corta, cai, etc.) e sofre ações de outros seres (é cortado, é preso, é puxado, etc.).
As categorias ou predicados podem ser essenciais ou acidentais, isto é, podem ser necessários e indispensáveis à natureza própria de um ser ou podem ser algo que um ser possui por acaso ou que lhe acontece por acaso, sem afetar sua natureza. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário