segunda-feira, 18 de maio de 2015

Natureza e cultura

No pensamento ocidental, natureza possui vários sentidos. A natureza é:
. princípio de vida ou princípio ativo que anima e movimenta os seres. Nesse sentido, fala-se em "deixar agir a natureza" ou "seguir a natureza" para significar que se trata de uma força espontânea, capaz de gerar e de cuidar de todos os seres por ela gerados;
. essência própria de um ser. Nesse sentido, a natureza de alguma coisa é o conjunto de qualidades, propriedades e atributos que a definem necessariamente. Aqui, natural se opõe a acidental (o que pode ser ou deixar de ser) e ao que é adquirido por costume ou pela relação com as circunstâncias;
. organização universal e necessária dos seres segundo uma ordem regida por leis universais e necessárias. Nesse sentido, a natureza se caracteriza pelo ordenamento dos seres, pela regularidade dos fenômenos ou dos fatos, pela frequência, constância e repetição de causalidade entre as coisas;
. tudo o que existe no Universo sem a intervenção da vontade e da ação humanas. Assim, natureza ou natural opõe-se ao que é produzido pelos homens, portanto, opõe-se à técnica e à tecnologia (por esse motivo, opomos natural e técnico);
o conjunto de tudo quanto existe e é percebido pelos humanos como o meio ambiente no qual vivem. A natureza aqui, significa tanto o conjunto das condições físicas em que vivemos quanto as coisas que contemplamos com emoção (a paisagem, o mar, o céu, as estrelas, os terremotos, os eclipses, etc.). A natureza é o mundo visível como meio ambiente e como aquilo que existe fora de nós.
Para as ciências contemporâneas, a natureza não é apenas a realidade externa, mas um objeto de conhecimento elaborado pelas operações científicas para explicar essa realidade.
Cultura e trabalho
Para vários filósofos e historiadores, a cultura surge quando os homens produzem as primeiras transformações na natureza pela ação do trabalho. Com o trabalho, os seres humanos produzem objetos inexistentes na natureza (vestuário, habitações, utensílios, instrumentos) e organizam-se socialmente para realizá-lo, dividindo as tarefas. Para aumentar os recursos produzidos, instituem a família e as relações de parentesco, as aldeias e vilas. Para protegê-las, inventam as armas e a guerra. Para conseguir condições sempre favoráveis para o trabalho e para a melhoria do que produzem, invocam e adoram forças divinas, instituindo a religião. Os vários agrupamentos humanos, nascidos do trabalho e dos sistemas de parentesco, trocam entre si produtos de seu trabalho, inventando o comércio. As desigualdades surgem quando uma parte da comunidade toma para si, como propriedade privada, terras, animais, águas: começa a divisão social da qual surgirão as classes sociais e os conflitos e, destes, a instituição do poder.
A cultura como ordem simbólica
A cultura é instituída no momento em que os humanos estabelecem para si mesmos regras e normas de conduta que asseguram a existência e a conservação da comunidade e que, por isso, devem ser obedecidas sob pena de punição (que pode ser desde um castigo ou a expulsão até a morte). É assim, por exemplo, que muitos antropólogos declaram que a cultura surge no momento em que os humanos dão um sentido novo à sexualidade, determinando quais as mulheres permitidas e quais as proibidas para um grupo, é a instituição da lei da proibição do incesto.
O que é a lei humana? Diferentemente da lei natural, a lei humana é um mandamento social que organiza toda a vida dos indivíduos e da comunidade, tanto por determinar o modo de estabelecimento dos costumes e de sua transmissão de geração a geração como por presidir as ações que criam as instituições sociais (religião, família, guerra e paz, formas do trabalho, distribuição das tarefas, formas de poder, etc.). A lei não é uma simples proibição para certas coisas e obrigação para outras, mas é a afirmação de que os humanos são capazes de criar uma ordem de existência que não é simplesmente natural (física, biológica). Essa ordem é a ordem simbólica.
A ordem simbólica consiste na capacidade humana de dar às coisas um sentido que está além de sua presença material, isto é, a capacidade de atribuir significações e valores às coisas e valores às coisas e aos homens. É essa dimensão simbólica que se institui com a proibição do incesto, por exemplo.
Graças à linguagem e ao trabalho, os seres humanos tomam consciência do tempo e das diferenças temporais (passado, presente, futuro); tomam consciência da morte e lhe dão um sentido, organizam o espaço, humanizando-o (dando sentido ao próximo e ao distante, ao grande e ao pequeno, ao visível e ao invisível). A diferenciação temporal e espacial permite que os seres humanos se relacionem com o ausente, distinguindo não só o presente do passado e do futuro e o próximo do distante, mas também separando o sagrado do profano, os deuses dos homens.
Na realidade, não existe a cultura, no singular, mas culturas, no plural, pois os sistemas de proibição e permissão, as instituições sociais, religiosas e políticas, os valores, as crenças, os comportamentos variam de formação social e podem variar numa mesma sociedade no decorrer do tempo.
A filosofia é uma invenção humana e, portanto, uma atividade cultural e histórica.

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