sexta-feira, 8 de maio de 2015

O ser humano produz a si mesmo, mas também se perde de si mesmo (Karl Marx)

No século XIX, o filósofo alemão Karl Marx integrou as visões de natureza humana e condição humana. Cada uma delas, se tomada isoladamente, não permite conhecer melhor o ser humano.
A obra de Marx nos permite dar um novo sentido a essas expressões. Por natureza humana, entende-se aquilo de propriamente humano que é identificável em cada indivíduo. Leva-se em consideração, assim, os aspectos biológicos, anatômicos, fisiológicos e psicológicos e afirma-se que eles se expressam no aspecto material da vida cotidiana. Distingue-se entre uma "natureza humana geral", que são os aspectos invariáveis em toda a humanidade, e uma natureza humana modificada de cada época histórica", constituída pelos aspectos particulares de cada cultura e de cada sociedade em um período histórico específico.
Para Marx, o ser humano muda ao longo da história e, no entanto, permanece o mesmo. Isso porque ele considera que o ser humano constrói-se a si mesmo por meio do trabalho e, conforme se constrói, se modifica. A construção é feita a partir de uma espécie de "matéria-prima" que é o próprio ser humano, e isso permanece sempre o mesmo. Daí a possibilidade de falar em uma natureza humana. Mas ao trabalhar e transformar a natureza, o homem se modifica e é, por isso que, segundo Marx, é o trabalho que faz com que o ser humano seja propriamente humano.
Em outras palavras, para Marx os seres humanos produzem a si mesmos por meio do trabalho. O trabalho é, portanto, fonte de humanidade, de humanização.
Por condição humana, no texto de Marx (Manuscritos econômico-filosóficos), entende-se a situação concreta vivida por homens e mulheres, bem como as características que eles assumem em cada momento histórico. Na sociedade capitalista do século XIX, Marx afirmava que a condição humana era a alienação no processo do trabalho, ou o trabalho alienado.
Marx denominava trabalho alienado aquele que acontece no capitalismo industrial, em que, devido à divisão de funções entre os trabalhadores, cada trabalhador não conhece o processo geral do trabalho. Ele não tem condições de compreender como atividade que ele realiza se encaixa no processo de produção. Outro aspecto é que aquilo que o trabalhador produz não pertence a ele, mas ao dono da fábrica. Esse aspecto é essencial, pois revela o fundamento da alienação: a apropriação privada da produção da riqueza humana. Assim, o trabalho perde sua "humanidade" no processo do trabalho, uma vez que ele coloca parte de sua vida naquilo que produz e que não pertence a ele. Ele próprio, desse modo, é transformado em um objeto, em uma coisa. Em sua obra de maturidade, como em "O capital", Marx denominará esse processo de "reificação", partindo da palavra latina para 'coisa', que é res.
O trabalho passa a ser, então, um processo de "coisificação" do trabalhador, perde a possibilidade de ser criativo e deixa de ser um processo de transformação da natureza e construção do humano, convertendo-se em um processo mecânico e repetitivo. O trabalho já não é aquilo que faz o ser humano plenamente humano, tornando-o um animal como qualquer outro.
Segundo Marx, se a própria humanidade produziu a desumanizante condição humana do capitalismo, os próprios seres humanos devem transformar essa condição, superando o trabalho alienado por meio da abolição da propriedade privada dos meios de produção. Somente assim, será possível retornar ao processo de autoconstrução do humano, para a criação coletiva e histórica daquilo que chamamos "natureza humana" e que os seres humanos produzem cotidianamente nas suas relações consigo mesmos, com os outros e com o mundo.  

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