sexta-feira, 8 de maio de 2015

Como Hegel pensa a razão (espírito absoluto)

No século XIX, o filósofo alemão Hegel ofereceu outra solução para o problema do inatismo e do empirismo. A todas as concepções filosóficas que o antecederam, ele endereçou uma crítica de não terem compreendido algo fundamental: a razão é histórica.
De fato, a filosofia, preocupada em garantir a diferença entre mera opinião e a verdade, considerou que as ideias só seriam racionais e verdadeiras se fossem intemporais, perenes, as mesmas em todo tempo e em todo lugar. Uma verdade que não respeitasse essas condições seria mera opinião, seria enganosa, não seria verdade. A razão, sendo a fonte e a condição da verdade, teria também de ser intemporal
É essa intemporalidade atribuída à razão que Hegel criticou em toda a filosofia anterior. Ao afirmar que a razão é histórica, ele não está, de modo algum, dizendo que a razão é algo relativo, que vale hoje e não vale amanhã, que serve aqui e não serve ali, que cada época não alcança verdades universais. O que Hegel está dizendo é que a mudança, a transformação da razão e de seus conteúdos é obra racional da própria razão. A razão não é uma vítima do tempo, que lhe roubaria a verdade, a universalidade, a necessidade. A razão não está na história; ela é a história. A razão não está no tempo; ela é o tempo. Ela dá sentido ao tempo.
Hegel também fez uma crítica aos inatistas e aos empiristas muito semelhante à que Kant fizera.
Kant estava certo quando disse que os inatistas e empiristas se enganaram por excesso de objetivismo, isto é, por julgarem que o conhecimento racional dependeria inteiramente dos objetos do conhecimento, seja devido a experiência, seja devido à capacidade das ideias para reproduzir a realidade em si das coisas.
Mas Kant também se enganou porque não foi capaz de compreender que a razão é sujeito e objeto. Ou seja, mesmo afirmando que a razão não conhece a realidade em si, mas  apenas a realidade fenomênica, Kant ainda admitia a existência de uma realidade, isto é, que o real é a obra histórica da razão.
A razão, diz Hegel, não é exclusivamente razão objetiva (para a qual a verdade está nos objetos) nem exclusivamente subjetiva (para a qual a verdade está no sujeito), mas ela é a unidade necessária do objetivo e do subjetivo. Ela é o conhecimento da harmonia entre as coisas e as ideias, entre o objeto e o sujeito, entre a verdade objetiva e a verdade subjetiva.
O que é, afinal, a razão para Hegel? Para ele, a razão é:
1. o conjunto das leis do pensamento, isto é, os princípios, os procedimentos do raciocínio, as formas e as estruturas necessárias para pensar as categorias, as ideias - é razão subjetiva;
2. a ordem, a organização, o encadeamento e as relações das próprias coisas, isto é, a realidade objetiva e racional - é razão objetiva;
3. a relação interna e necessária entre as leis do pensamento e as leis do real. Ela é a unidade da razão subjetiva e da razão objetiva. A essa unidade, Hegel dá o nome espírito absoluto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário